O Tratado de Toerdesilhas e o Triangulo de Dominio Actual

 










Rússia




1. O Triângulo de Domínio Atual:

As três potências – EUA, China e Rússia – desempenham papéis distintos em diferentes regiões do mundo. A "linha divisória", no entanto, não é clara e formal como no Tratado de Tordesilhas, mas pode ser percebida pelas zonas de influência econômicas, militares e políticas que cada potência busca consolidar.

1.1. Estados Unidos:

  • Áreas de influência:

    • Américas (Norte, Central e do Sul): Os EUA historicamente exercem hegemonia no continente, com a Doutrina Monroe (1823) declarando a América Latina como sua área de influência.
    • Europa Ocidental: Fortemente ligada aos EUA por meio da OTAN, especialmente no contexto das tensões com a Rússia.
    • Indo-Pacífico: Presença militar e política no Japão, Coreia do Sul e Austrália, em resposta à ascensão da China.
  • Ferramentas de poder:

    • Militar (OTAN, bases globais), poderio econômico (dólar como moeda global) e soft power cultural (Hollywood, tecnologia).
  • Semelhança com Portugal no Tratado de Tordesilhas:
    Assim como Portugal usou sua superioridade naval para dominar as rotas marítimas no Oriente, os EUA dominam os mares e controlam importantes rotas comerciais globais por meio de sua marinha e influência sobre instituições econômicas globais.


1.2. China:

  • Áreas de influência:

    • Ásia Oriental: Busca se consolidar como a potência dominante, desafiando os EUA no Indo-Pacífico.
    • África: A China tem investido maciçamente no continente, com projetos de infraestrutura e empréstimos através da Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative).
    • América Latina: Crescente presença econômica, desafiando a tradicional hegemonia dos EUA.
  • Ferramentas de poder:

    • Econômica (crescimento da economia chinesa, parcerias comerciais globais), tecnológica (5G, inteligência artificial) e diplomática.
    • O soft power chinês está em expansão, especialmente em países em desenvolvimento.
  • Semelhança com a Espanha no Tratado de Tordesilhas:
    Assim como a Espanha expandiu seu domínio em vastos territórios do "Novo Mundo", a China busca expandir sua influência em áreas economicamente promissoras como a África e a Ásia Central, garantindo recursos naturais e novas alianças.


1.3. Rússia:

  • Áreas de influência:

    • Europa Oriental: Busca reestabelecer sua esfera de influência sobre ex-repúblicas soviéticas (Ucrânia, Geórgia, Bielorrússia), desafiando a OTAN e a UE.
    • Médio Oriente: Fortalecimento em países como Síria e Irã, através de apoio militar e alianças estratégicas.
    • Ártico: Rússia lidera a militarização e exploração do Ártico, uma região de crescente interesse global devido ao derretimento do gelo e novas rotas comerciais.
  • Ferramentas de poder:

    • Militar (armas nucleares, operações de guerra híbrida), energética (exportação de gás e petróleo) e propaganda (desinformação e influência digital).
  • Semelhança com Portugal ou Espanha:
    A Rússia não tem um papel claramente análogo no contexto do Tratado de Tordesilhas, mas atua como uma potência revisionista, tentando alterar a ordem global dominada por EUA e aliados, e buscando criar sua própria "zona de influência".


2. Comparação com o Tratado de Tordesilhas:

2.1. Divisão de Zonas de Influência:

  • Assim como Portugal e Espanha dividiram o globo em duas zonas exclusivas de domínio, EUA, China e Rússia tentam delimitar suas áreas de influência. No entanto, no mundo moderno, essas zonas não são formalmente acordadas, mas resultam de rivalidades econômicas, diplomáticas e militares.

2.2. Áreas de Conflito:

  • No Tratado de Tordesilhas, áreas disputadas eram resolvidas pela Igreja Católica, que mediava os interesses de Portugal e Espanha.
  • Hoje, não há um mediador central, e as áreas de conflito incluem:
    • Indo-Pacífico: Rivalidade entre EUA e China pelo controle do comércio e da segurança marítima.
    • Europa Oriental: Conflito entre a Rússia e o Ocidente, exemplificado pela guerra na Ucrânia.
    • Ártico e Espaço: Novos "territórios" que todos os três tentam explorar e dominar.

2.3. Economia e Comércio:

  • Assim como no Tratado de Tordesilhas as rotas marítimas e o comércio de especiarias foram fundamentais, hoje os interesses comerciais moldam o triângulo de domínio.
    • Exemplo: O controle de tecnologias-chave como semicondutores e redes 5G (China), o dólar como moeda dominante (EUA) e o controle de energia (Rússia).

2.4. Religião e Ideologia:

  • O Tratado de Tordesilhas tinha um forte componente religioso: a evangelização.
  • Hoje, os três grandes também promovem "ideologias globais":
    • EUA: Democracia liberal e capitalismo.
    • China: Socialismo de mercado e autoritarismo político.
    • Rússia: Nacionalismo conservador e oposição ao globalismo ocidental.

3. Conclusão:

O triângulo de domínio entre EUA, China e Rússia pode ser visto como uma versão moderna do Tratado de Tordesilhas, mas sem uma linha clara de divisão ou um mediador central como o Papa. As potências buscam expandir suas influências em regiões estratégicas, seja pelo poder militar, econômico ou ideológico, resultando em tensões e zonas de disputa que definem a geopolítica do século XXI. No entanto, a interdependência econômica global e a ausência de um consenso formal tornam este "tratado implícito" muito mais fluido e instável do que o acordo entre Portugal e Espanha.



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